Antes de ler o livro eu não sabia
sobre a existência de Cidades de Papel. Cidades de papel, para quem não sabe,
são cidades criadas e inseridas em um mapa como armadilhas para identificar
violações de copyright. Diversos cartógrafos criam pontos de referência, ruas e
cidades fictícios e os inserem secretamente em seus mapas. Caso o local apareça
no mapa de outro cartógrafo, fica comprovado que houve plágio.
Às vezes eu só queria uma cidade
de papel, uma tomorrowland para me refugiar nos momentos de tristeza. Antes,
para mim, cidade de papel era só uma metáfora para mostrar a fragilidade de
nossa civilização, selvas de concreto construídas sobre as débeis vigas da
política. Vivemos atualmente uma crise de ética sem precedentes, em um país em
que tornou-se aceitável a conquista de cargos por influência política e não por
mérito. Moramos em um país de papel injusto e achamos tudo muito normal,
simplesmente por fazer parte do nosso dia-a-dia, banalizamos a corrupção, e as
vigas da nossa cidade começam a amassar e desmoronar, levando-nos à, sabe Deus,
que futuro.
É justamente aqui, neste ponto,
que queria por uma mochila nas costas, encher o tanque de um carro qualquer de
gasolina e partir para uma cidade que eu sei, só existe no papel, ou na minha
mente. Pois, não passo de uma garota de papel, frágil, que de tão amassada, já
não pode voltar ao normal, ou queima e se destrói, ou fica permanentemente
amarrotada de cicatrizes.
Apesar de serem livros
infanto-juvenis, tanto Cidades de Papel,
quanto A culpa é das estrelas (ambos
eu li simplesmente porque viraria filme, sendo que até hoje não conferi A culpa é das estrelas na tela), são de
uma densidade rara em livros destinados a esse público, talvez se os tivesse
lido na minha pré-adolescência, tivesse achado que Cidades de Papel era só mais
um livro fofinho de romance, mas agora que enxergo a realidade com outros
olhos, consigo visualizar a riqueza, a ironia e a melancolia dos escritos de
John Green, tudo isso em frágeis folhas de papel.
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